(Crónica Paulo Gomes Varela, publicado en el diario Público)
Si yo fuera uno de los manifestantes, en Grecia, en las protestas en la calle contra
medidas impuestas por la autoridades nacionales e internacionales,
Es muy probable que sintiera la necesidad de unirme a aquellos que los medios de comunicacion
llaman "anarquistas", porque el uso de la violencia entraña una actitud de no resignarse a lo inevitablede y mas apropiada a la rabia y frustracion que nos invade a todos.
En la actitud de "anarquistas" hay muchas cosas que no me gustan pero hay
algo que me reta tanto a nivel personal y como
Portugués (o como Gallego, o vasco, o catalan...): no tienen miedo de la policía.
Sin embargo, a menudo el miedo a la autoridad es el sello distintivo de la conducta más vil de la mayor parte de los portugueses, entrenada por décadas de cobardía y sumisión, y
desengaño y dotada durante demasiado tiempo de dirigentes sindicales o
políticos de la oposición que sólo saben hacer un llamamiento a la calma y ya no están
dispuestos a luchar en serio por aquello que debemos conquistar.
Cuando yo era joven, mis padres trataron de enseñarme a no tener miedo de la
policía. No se trataba tanto del hecho de que estabamos bajo una dictadura y de la necesidad de hacerle frente. Las dictaduras vienen y desaparecen, el Estado, su brutalidad, jamas desaparece.
Se trata de una cuestión más profunda. Mi madre nos contaba la
historia de Antígona, una tragedia de Sófocles en la que
Antígona desobedece las leyes de su ciudad, Tebas, para enterrar a su hermano Polinices, que las leyes habían prohibido. Antígona es condenada a muerte por su firme convicción de que las leyes de los dioses, que mandan
a una hermana enterrar a su hermano, son más importantes y dignas de
respecto que las de los hombres. Con esta historia, mi madre nos decia
que la ley no es un valor absoluta, que hay leyes injustas, y que es un deber resistir al Estado y a sus leyes siempre que la moral y la etica personal asi lo requiera. Si
estuvieramos seguros de nuestra confianza en las leyes que son anteriores a la ley,
no deberiamos temer a la policía, a los tribunales, al Estado.
La ausencia de temor entre los griegos, su símbolo más elocuente
(por ello se convirtió en un icono en todos los medios de comunicación) es Lukanikos, un perro callejero y vigilante,
que desde el año 2008 aparece al frente de las manifestaciones, enseñando los dientes
a la policía, y luchando junto a sus compañeros humanos.
También con respecto a los perros, la autoridad no es suficiente para imponerse
y ser obedecida. Tiene sin embargo que justificarse mostrando su amor,
no por la ley de la fuerza, sino por una ley superior, la de la justicia. Nadie
debe respeto y obediencia a autoridad alguna, en absoluto, sea ella cual sea,
justificada o no por los votos, que se basa en la razón financiera para
condenar a millones de hombres y mujeres que ya estaban viviendo en las peores condiciones
a una vida aún más pobres, dejando fuera de esa condena a los más ricos, a los
responsables de esta desgracia colectiva. Al igual que Antígona, los griegos
tienen derecho a decir: no, no obedeceremos a la autoridad, no obedeceremos sus leyes.
Lukanikos enseña los dientes a la policía griega, simbolizando el valor de
la vanguardia del pueblo que es capaz de poner una ley superior, la de
la justicia, por encima de las determinaciones de los vendedores ambulantes de todos los templos.
Paulo Gomes Varela
Lukanikos
Se eu fosse um qualquer dos manifestantes que, na Grécia, contestam na
rua as medidas impostas pelas autoridades nacionais e internacionais,
é provável que sentisse vontade de me juntar àqueles que os media
chamam «anarquistas» porque a violência de que fazem uso constitui uma
reacção menos resignada ao inevitável e mais apropriada à raiva e
frustração que todos.
Na atitude dos «anarquistas» há muitas coisas de que não gosto mas há
um aspecto que me interpela, tanto pessoalmente como enquanto
português: não têm medo da polícia. Ora, sinto muitas vezes que o medo
da autoridade é o traço mais vil do comportamento da maioria dos
portugueses, treinados na cobardia por décadas de submissão e
desengano e dotados há já demasiado tempo de dirigentes sindicais ou
políticos de oposição que só sabem apelar à calma e não estão mais
prontos a bater-se a sério do que aqueles que deveriam encorajar.
Quando eu era novo, os meus pais tentaram ensinar-me a não ter medo da
polícia. Não se tratava tanto do facto de estarmos então sob uma
ditadura e de ser necessário enfrentar a autoridade. As ditaduras
ficam e passam, o Estado, a sua brutalidade, não desaparece nunca.
Tratava-se de uma questão mais profunda. A minha mãe contava-nos a
história de Antígona, uma tragédia de Sófocles no decurso da qual
Antígona desobedece às leis da sua cidade, Tebas, para sepultar o
irmão Polinices que as leis tinham banido. Antígona é condenada à
morte porque se firma na convicção de que as leis dos deuses, que
mandam uma irmã sepultar o irmão, são mais importantes e dignas de
respeito que as dos homens. Com esta história, a minha mãe dizia-nos
que a lei não é um valor absoluto, que há leis iníquas, e que é
preciso resistir ao Estado e à lei sempre a moral assim o exigir. Se
estivermos certos da nossa confiança em leis que são anteriores à lei,
não devemos temer a polícia, os tribunais, o Estado.
Da ausência de medo por parte dos gregos, o símbolo mais eloquente
(tanto que se tornou um ícone nos media) é Lukanikos, um cão vadio e
rafeiro que desde 2008 aparece na frente das manifestações, arreganha
o dente à polícia, e bate-se ao lado dos seus companheiros humanos.
Também no que respeita aos cães, não basta à autoridade afirmar-se
para ser obedecida. Tem ainda que se justificar mostrando o seu amor,
não pela lei da força mas por uma lei maior, a da justiça. Ninguém
deve respeito e obediência a qualquer autoridade, seja ela qual for,
justificada ou não por votos, que se baseie na razão financeira para
condenar milhões de homens e mulheres que já eram pores a uma vida
ainda mais pobre, deixando de fora dessa condenação os mais ricos e os
mais responsáveis pela desgraça colectiva. Como Antígona, os gregos
têm o direito de dizer: não obedecerei a essa autoridade e a essa lei.
Lukanikos arreganha os dentes à polícia grega simbolizando a coragem
da vanguarda de um povo que é capaz de colocar a lei maior, a da
justiça, acima das determinações dos vendilhões de todos os templos.
Paulo Varela Gomes
de los compañeiros de PIMENTA NEGRA
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